Depois de falar em desejos, ou
melhor, que devemos ter certeza se aquilo que pensamos desejar é realmente
essencial em nossas vidas e pelo que devemos depreender todo o esforço
necessário para alcançar, fiquei pensando em quantos momentos de superação
temos de enfrentar na busca por essas realizações.
Também tomada pelo sentimento de
ter acabado de me formar em uma licenciatura e de presenciar tantos e tantos
desafios cotidianos que meus amigos e amigas professores (as) enfrentam para,
em nome de seus sonhos, tentar transmitir algo de bom e de certa forma
contribuir para a formação global de seus alunos, lembrei de uma história real
de superação que tem justamente o toque inicial de uma professora.
Era uma vez uma menina de família
humilde e de poucos recursos, muito bonita e inteligente que perdeu o pai muito
cedo em um trágico acidente de moto. A mãe da menina, mulher batalhadora e
determinada, criava os filhos da melhor maneira que conseguia. Morando em um
bairro periférico de uma cidade de interior, a menina estudava na escola
pública considerada, na opinião da comunidade, como “a pior da cidade”. Mas, um dia apareceu por lá uma professora de
matemática, que acabara de passar no concurso e que não teve opções de escolher
uma escola melhor. Mesmo decidida a não ficar ali por muito tempo, a professora
percebeu o potencial da menina, que já estava no último ano do ensino
fundamental, e começou a incentivá-la a procurar um ensino médio técnico,
prestando o conhecido “vestibulinho”.
A menina achava que não ia
conseguir, mas a professora insistiu, estudou com ela, preparou tarefas,
incentivou e a menina passou a acreditar que era capaz. Mas, os amigos, a
comunidade e até a família achavam impossível. Como ela conseguiria ser
aprovada se, outros conhecidos, que estudavam em melhores escolas e tinham
condições de vida mais favoráveis não haviam conseguido?!! Ela não se deixou
abater e com dedicação e a fé que lhe é peculiar, CONSEGUIU!
Como ela mesma diz, esse período
abriu seus olhos para uma vida e para possibilidades que ela sequer imaginava
existirem. E ao trilhar seu caminho foi ganhando a confiança de que poderia ir
mais longe. Suas amigas, nessa época, mal saídas da adolescência, já estavam casadas, com filhos, e nenhuma
perspectiva profissional. Não que ter filhos fosse ruim, pensava a menina, mas
não era essa vida que ela queria para ela. Não por agora.
E ela seguiu e a vida foi lhe
colocando outras barreiras. O namorado de infância também se foi em um acidente
igual ao do pai. Não sem dor, ela foi em frente e aproveitou a oportunidade de
fazer o ENEM. Queria cursar uma faculdade. Novamente as pessoas disseram: “Como?! Isso não é pra você!” E ela não
deu bola. Agarrou-se à sua fé, à sua inteligência e determinação. Consegui
notas capazes de colocá-la em uma faculdade de medicina com bolsa integral
concedida pela União aos jovens carentes e determinados como ela.
Escolheu o Direito. E hoje me dá
a satisfação de presenciar a sua história e de contribuir ainda que minimamente
para que ela nunca desista de seus sonhos e que acredite que é capaz de chegar
a qualquer lugar que deseje ir, sempre fazendo as escolhas por si e avaliando o
que é realmente essencial na sua vida.
Contei essa história em sala de
aula no último ano da graduação. Depois de uma semana de estágio em uma escola
estadual e, frustrados com a perspectiva do ensino público em nosso país, ela
caiu como um sopro de esperança no coração de cada um de nós. Esperamos
encontrar muitas meninas e meninos com potencial pela frente. Esperamos
reconhecê-los e proporcionar a cada um deles a visão de uma nova vida,
ensinado-lhes que desistir, não deve
estar nos planos!
Melissa
Texto dedicado a Mariana
Laffayetti