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segunda-feira, 5 de outubro de 2015

É preciso se despir

Há algum tempo fiz uma promessa: não compraria roupas por um ano. Não, eu não estava endividada. Não, eu não queria repetir o sucesso do blog “Um ano sem Zara”. Não, eu não tinha enlouquecido. Eu apenas tinha algo tão forte diante de mim e precisava fazer uma promessa que realmente fosse “nova”, sacrificante e cortar o chocolate não era suficiente. Pode parecer uma promessa fútil, mas sei que a maioria das mulheres, principalmente, irá saber o quão difícil é.

No começo, como esperado, foi bem difícil. A promessa ainda tinha um adendo: toda vez que eu tivesse a tentação de comprar alguma peça, deveria doar o valor a uma entidade. O valor doado foi significativo. Mas aos poucos a vontade foi passando, passando e, no fim, mais de um ano se passou até que eu comprasse uma peça nova de roupa. E agora, confesso, com mais critério, com mais consciência, com mais acerto e diante, principalmente, da necessidade e não do consumo quase compulsivo.

Nesse período, ainda, vendi várias peças, doei tantas outras e surpresa: meu armário continua cheio!!! Isso me mostrou ainda mais o quão supérfluas são algumas coisas. Já tenho planos para muitas peças e uma certeza: elas não precisam estar ali.

Para muito além do discurso do consumo consciente e sustentável, ficou a já batida lição – tão difícil de aprender – que é preciso se despir para compreender o excesso daquilo que se carrega. Não importa de que forma fazemos isso. O importante é fazermos.

Tenho amigos que completaram no dia em que escrevo este texto a peregrinação pelo Caminho de Santiago de Compostela pela rota portuguesa. Só na preparação já foram aprendendo o quanto daquilo que pensamos ser necessário, temos que deixar para trás se quisermos seguir em frente. Imagino as muitas estórias que vão contar ao regressar e de quantos pesos mais eles se livraram ao caminhar.

Quando a vida nos põe à prova de alguma maneira, é preciso fazer escolhas. Das minhas muitas provas na vida, as últimas me fizeram me despir. Tive que me despir da carga dos outros, principalmente, para poder ter forças para suportar a minha própria.  E essa lição, a vida já vinha tentando me ensinar faz muito tempo. Mas somos teimosos e sempre queremos carregar mais do que podemos, mais do que necessitamos.

De tempos em tempos sempre é bom sair e se despir. Se despir daquilo que carregamos e não mais nos pertence. Se despir do peso dos problemas dos outros. Se despir das mágoas. Se despir dos bens materiais que não fazem mais sentido.


Andar com fé. Andar com menos. Viver com mais.