Há algum tempo fiz uma promessa:
não compraria roupas por um ano. Não, eu não estava endividada. Não, eu não
queria repetir o sucesso do blog “Um
ano sem Zara”. Não, eu não tinha enlouquecido. Eu apenas tinha algo tão forte
diante de mim e precisava fazer uma promessa que realmente fosse “nova”, sacrificante
e cortar o chocolate não era suficiente. Pode parecer uma promessa fútil, mas
sei que a maioria das mulheres, principalmente, irá saber o quão difícil é.
No começo, como esperado, foi bem
difícil. A promessa ainda tinha um adendo: toda vez que eu tivesse a tentação
de comprar alguma peça, deveria doar o valor a uma entidade. O valor doado foi
significativo. Mas aos poucos a vontade foi passando, passando e, no fim, mais
de um ano se passou até que eu comprasse uma peça nova de roupa. E agora,
confesso, com mais critério, com mais consciência, com mais acerto e diante,
principalmente, da necessidade e não do consumo quase compulsivo.
Nesse período, ainda, vendi várias
peças, doei tantas outras e surpresa: meu armário continua cheio!!! Isso me mostrou
ainda mais o quão supérfluas são algumas coisas. Já tenho planos para muitas
peças e uma certeza: elas não precisam estar ali.
Para muito além do discurso do
consumo consciente e sustentável, ficou a já batida lição – tão difícil de
aprender – que é preciso se despir para compreender o excesso daquilo que se
carrega. Não importa de que forma fazemos isso. O importante é fazermos.
Tenho amigos que completaram no dia
em que escrevo este texto a peregrinação pelo Caminho de Santiago de Compostela
pela rota portuguesa. Só na preparação já foram aprendendo o quanto daquilo que
pensamos ser necessário, temos que deixar para trás se quisermos seguir em
frente. Imagino as muitas estórias que vão contar ao regressar e de quantos
pesos mais eles se livraram ao caminhar.
Quando a vida nos põe à prova de
alguma maneira, é preciso fazer escolhas. Das minhas muitas provas na vida, as
últimas me fizeram me despir. Tive que me despir da carga dos outros,
principalmente, para poder ter forças para suportar a minha própria. E essa lição, a vida já vinha tentando me
ensinar faz muito tempo. Mas somos teimosos e sempre queremos carregar mais do
que podemos, mais do que necessitamos.
De tempos em tempos sempre é bom
sair e se despir. Se despir daquilo que carregamos e não mais nos pertence. Se
despir do peso dos problemas dos outros. Se despir das mágoas. Se despir dos
bens materiais que não fazem mais sentido.
Andar com fé. Andar com menos.
Viver com mais.
Nenhum comentário:
Postar um comentário