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segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

Entre cartas e e-mails

Não sou do tipo saudosista. Tampouco acho que as tecnologias são inúteis. Mas hoje me bateu uma saudade das cartas. Talvez porque as cartinhas de Papai Noel que atendemos nos correios este ano tenham mexido comigo. Na minha família, entre meu avô e seus irmãos, havia uma constante troca de correspondência. Eles tinham até um cabeçalho padrão, algo como: "Neste dia 07 de janeiro do ano 2013, de Nosso Senhor Jesus Cristo, é com prazer que pego na pena pra escrever essas mal traçadas letras.....". Falava-se, sobretudo, sobre o tempo, a colheita, os animais de criação, a saúde dos parentes. E ainda tinha um final triunfante, igualmente presente em todas as cartas: "Sem mais nada por hoje, termino desejando saúde, paz e harmonia deste que muito os estima. Lembranças de todos daqui para todos daí." E lá iam e vinham as cartas trazendo para perto quem estava longe. 
Troquei muitas cartas com meus amigos. Me lembro da alegria que era receber uma carta inesperada e até mesmo da ansiedade por uma resposta. Não sou tão velha! É claro que já podíamos nos utilizar do telefone, mas, particularmente, nunca gostei dele.... prefiro as palavras escritas, sem pressa, a letra desenhada, o cheiro do papel, a angústia da espera.
Até com as amigas mais próximas eu tinha o hábito de trocar cartas. Estávamos lá, todos os dias juntas, mas levávamos nossas cartas e as trocávamos na sala de aula, contando umas às outras todas as novidades do dia anterior, as paqueras, os amores reais e os platônicos - principalmente! Nos deleitávamos na magia das palavras, exercitávamos a escrita e a imaginação, sem nem ao menos nos dar conta. Era muito bom saber tudo o que se passava na vida dos amigos, estivessem eles longe ou perto. Às vezes elas vinham acompanhadas de um presente, de um desenho, de um carinho. Algumas dessas cartas estão guardadas até hoje. Com envelope e tudo. Sinto uma saudade imensa das minhas amigas e sei que um dia ainda vamos ler essas cartas juntas, rir muito de tudo o escrevíamos, das angústias adolescentes, das incertezas da idade, das preocupações cotidianas, sem nem imaginar como a vida nos traria até aqui: mulheres adultas e bem resolvidas, mães, profissionais...
Hoje tudo se passa nos e-mails. As mensagens eletrônicas vão e vem na mesma velocidade em que levamos nossas vidas. Não se espera pelo carteiro, não há o papel rasgando, não tem cheiro, textura ou cor. Se era possível esperar semanas, meses por uma carta, hoje, se a resposta ao e-mail demora mais que dez minutos ou passa de um dia para o outro, isso já nos gera uma imensa ansiedade. Será que foi enviado?! Chegou ao destino certo?! Será que foi lido?! Porque não há resposta?!
Não estou com isso dizendo que as cartas eram melhores ou que as mensagens eletrônicas não nos são úteis. Ao contrário. Entre minhas cartas escritas com meus amigos e os e-mails de hoje, algum tempo já se passou. Crescemos, evoluímos, seguimos as tendências e o impulso irremediável do mundo. 
Fizemos nossas escolhas. Mas acho que falta alguma coisa. Falta a poesia...........

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